DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES
A ERA DA FAMÍLIA LÍQUIDA
Por Dra. Marli Aparecida Andrade Vermelho
                                          “ Vivemos tempos líquidos, nada hoje é para durar”

Na sociedade, a velocidade das coisas tornou-se assustadora para algumas gerações, quem nasceu no século XX, já se sente incapaz de acompanhar a todas as mudanças, não é só sobre às novas tecnologias, e sim sobre o instituto social mais antigo, a “INSTITUIÇÃO FAMILIAR”.

A origem da Família era ligada diretamente à religião doméstica e não no afeto natural de seus membros e, nesse sentido, seguem outros tantos, mas independente se a Família surge a partir de uma religião ou se dá origem da própria sociedade, ou do Estado, é certo que desde os primórdios a Família se sustenta dentro de uma base social, todos submetidos ao poder do pater famílias.

Mas, quais são as bases de construção Familiar nos dias atuais. O estereótipo construído no passado, o qual colocou gerações e gerações de mulheres sob julgo de maridos, que foi reafirmado incansavelmente pela teledramaturgia, reprisando a lenda: “Famílias felizes são aquelas formadas por pai, mãe e filhos”, deixando de fora da prometida felicidade as demais Famílias que não se adequam ao estereótipo social, já estaria hoje desacreditado!

Ainda contamos com mães, pais, filhos, irmãos e avós, mas a Família do passado, com forte característica patriarcal cujo homem era visto como detentor do poder, apoiado no baluarte econômico, hoje, padece de adeptos. Fala-se em Direito das Famílias de modo plural e ampliado,  a Família pós-moderna vai além do vínculo biológico, ela é formada pelo vínculo afetivo, tendo inúmeras variações, seja as constituídas por mães ou pais solteiros, famílias formadas por novos casamentos, agregando filhos de casamentos anteriores e filhos do novo casal, casamentos entre indivíduos do mesmo gênero etc. Porém, uma coisa ainda permanece estável desde Ruy Barbosa “a Família em si é a Célula Mater da sociedade”, e sendo ela a principal responsável pela sua construção e transformação, apesar de estar sob o manto protetivo da Constituição Federal, também é afetada pela aceleração da tecnologia, que migra cada vez com maior intensidade para o ambiente Familiar.

Assim nos deparamos com o “amor líquido” onde os relacionamentos afetivos na pós-modernidade, ou seja, relacionamentos instáveis, sem forma ou substância, efêmeros, em que o amor é tão transitório e, neste contraponto, passa a se refletir sobre a fragilidade dos relacionamentos modernos, vejam, se afeto em nosso ordenamento é reconhecido como um valor jurídico tão forte, capaz de desfazer vínculos biológicos entre familiares, a fim de trazer à tona a realidade dos vínculos familiares sob a ótica do afeto, é difícil ser visto com naturalidade, sem qualquer tipo de crítica social.

Para, Zygmunt Bauman, vem a pergunta quem adoeceu, a sociedade que insiste em cobrar o estereótipo de pessoas para se enquadrarem em suas expectativas!, ou as famílias que adoeceram a ponto do abandono afetivo paterno/materno, ou será que ambos adoeceram !, é certo que teremos que repensar, sobre o papel das “expectativas sociais” e das novas tecnologias nos relacionamentos familiares, para, com isso, buscarmos a nossa real felicidade, o que só será possível pela revalorização das relações humanas.

E aí nos perguntamos…Podemos aceitar a “Família líquida” como a mais adequada para compor o papel social esperado....

É necessário persistir na luta pela defesa do afeto em todas as suas dimensões, inclusive na pós-modernidade, a possibilidade do debate e da reflexão pela necessidade do respeito à Dignidade da Pessoa Humana, inclusive no momento de atender a padrões sociais. Se todos os aspectos da nossa vida se viram afetados pela sociedade de consumo e pela tecnologia, os relacionamentos também o foram. Na chamada sociedade sólida, normalmente, o casamento durava para sempre, escorados no ideal do amor romântico.

No entanto, com o advento das tecnologias, conectar-se com as pessoas tornou-se muito fácil, por outro lado, desconectar-se dessas mesmas pessoas também é igualmente fácil. Assim, as relações, ao invés de serem duradouras, passam a ser seriadas e constituem um acúmulo de experiências, do qual o que contaria é a quantidade e a satisfação, tal como sucede nos produtos que consumimos.

 
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